Lashon Hará



Rabi Shimon, filho de Rabban Gamliel, declarou: "Toda minha vida, cresci entre os Sábios, e jamais encontrei algo melhor para uma pessoa que o silêncio" (Ética dos Pais 1:17).

Isso é interessante. Todos nós já ouvimos sugestões semelhantes, certo? "Se você não tem nada de bom para dizer, então fique calado." Este é um clássico.

Mas o aforismo de Rabi Shimon é mais profundo que os clichês. Afinal, ele alegou que não há nada melhor que o silêncio – nada mesmo. E para enfatizar o valor do silêncio, ele prossegue dizendo que "a explicação não é básica, mas a ação, e todos que multiplicam as palavras produzem o pecado."

O que ele quis dizer com isso? Que nunca devemos elogiar uma pessoa? Jamais dizer uma bênção? Se Rabi Shimon não está se referindo a todos os tipos de palavras, a que tipo se referia? Precisamos de uma máxima inteligente para nos proibir de amaldiçoar?

Maimônides, em seu comentário sobre Pirkê Avot (Ética dos Pais) levanta três questões. Ele explica que existem cinco categorias de discurso:

Discurso associado a uma mitsvá (mandamento).
Discurso que devemos ter o cuidado de evitar.
Discurso que é repulsivo ou degrada.
Discurso que expressa amor.
Discurso que é permitido.

Maimônides explica então o que quer dizer. O discurso associado a uma mitsvá inclui estudar a Torá em voz alta. Este tipo de conversa é exigido, na verdade; devemos dizer palavras de Torá e prece. A primeira categoria Maimônides classifica como um mandamento positivo obrigatório.
O discurso que precisamos ter o cuidado de evitar inclui o falso testemunho, mentir, mexericar e praguejar. A Torá nos proíbe o envolvimento com este tipo de discurso, advertindo-nos a nos guardar contra ele e contra outros tipos de conversa inconveniente, incluindo lashon hará (lashon hará, literalmente, linguagem do mal, é qualquer discurso que ofenda outra pessoa, mesmo que as declarações sejam verdadeiras).

Claramente, Rabi Shimon ben Gamliel não pode estar se referindo a estas duas categorias, pois uma é um mandamento positivo e a outra é uma proibição. Não precisamos de um aforismo para nos dizer o que já sabemos que é uma mitsvá.
O discurso que é repulsivo ou degrada inclui tagarelice, conversa que não tem utilidade, e não beneficia uma pessoa, espiritual ou materialmente. Não há uma proibição inequívoca contra este tipo de discurso, pois ele não envolve amaldiçoar ou mentir, etc. Mas ele não tem qualquer valor. Um pouco diferente da fofoca ou mexerico, pois não espalha boatos ou destrói reputações, a tagarelice comum é inútil e irrelevante, como muito daquilo que passa por novidade. Esta conversa vã, desperdiçada, também inclui elogios negativos e cumprimentos ambíguos. 

O discurso que expressa amor ou afeição inclui elogiar o positivo e criticar sabiamente o negativo. Histórias e canções que elevam a alma, inspiram pessoas a melhorar ou inculcam bons hábitos fazem parte dessa categoria, assim como aquelas que mostram como são repulsivos os maus hábitos e fazem as pessoas desejar evitá-los.

Como os dois primeiros, o comentário de Rabi Shimon Gamliel não se aplica a esses. Se falássemos continuamente, o dia inteiro, e nosso discurso pertencesse às categorias um e quatro – palavras de Torá e mitsvot e conversação que inspira – isso seria ótimo. É óbvio que não devemos falar falsidades ou ofender os outros com nossas palavras, assim como também é óbvio que tagarelice e "novidades" são uma perda de tempo e fôlego. Isso nos leva à última categoria: O discurso permitido inclui a conversação que envolve de negócios, família, saúde e atividades cotidianas necessárias, como comer e beber. Não há nada de inerentemente positivo ou negativo neste tipo de conversa. Falar ou não falar, fica a critério da pessoa.

E sobre este tipo de conversa, nos diz Rabi Shimon ben Gamliel, o melhor é o silêncio, pois se você tem de falar, assegure-se de que suas palavras combinam com suas ações – e seja breve

"Se você não tem nada de bom para dizer, então fique calado."

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Nas longas tardes de Shabat no verão (leva-se em conta a estação vigente em Israel), costuma-se estudar Pirkê Avot. Estes ensinamentos elevam a alma, refinando o caráter da pessoa e seus atributos emocionais.

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A cabeça ou a cauda


Narrado pelos Mestres Chassídicos – Compilado por Yanki tauber

Certa vez, uma serpente rastejava contorcendo-se toda, quando a cauda de repente voltou-se contra a cabeça e disse, furiosa: "Olha aqui, estou cansada de sempre seguir-te para onde quer que inventes de ir! Já é tempo de eu assumir a liderança!"

"Tu és tola, és estúpida" – silvou a cabeça – "pois não apenas te meterias em todo tipo de trapalhada, como também me arrastarias contigo!"

Mas a cauda teimava tanto em sua insensatez e a discussão ficou tão feroz, que a cabeça acabou cedendo só para ter sossego, mas declarou: "Depois não diga que não avisei!"

A cauda então pulou para a frente, feliz, decidida a aproveitar ao máximo sua recém-conquistada liberdade e liderança.

Antes que pudesse pensar, caiu numa poça d’água, e se não saltasse para fora a tempo, estariam completamente perdidas. Pouco depois, entrou numa fogueira, arrastando a cabeça atrás de si. Ficaram tão queimadas que mal escaparam com vida.

Mesmo após esta afortunada salvação, a cauda ainda não aprendera a lição, e insistiu em continuar com aquela liderança tola! Embora a cabeça já estivesse cansada e enjoada daquilo, tinha dado a sua palavra, e, aborrecida, continuou a seguir a tola guia. Mal teve tempo de perceber o que estava acontecendo, quando a cauda se enfiou num enorme espinheiro; ela e a cabeça começaram a se virar, torcer e retorcer para livrar-se, mas ficaram cada vez mais emaranhadas. 
Por mais que tentasse, estavam tão presas nos espinhos que não conseguiram se soltar, e acabaram perecendo – tudo por causa da teimosia e estupidez da cauda, insistindo em guiar a cabeça!

A moral aqui está clara – ai daqueles que se deixam guiar pelos tolos ou por gente de mentalidade inferior. Feliz, porém, é aquele que segue os ensinamentos e os exemplos dos eruditos e dos grandes Sábios.

Uma lição de liderança



Nesta Porção, lemos sobre os grandes líderes do povo judeu, Moshê e seu irmão Aharon.
Os comentaristas observam que Moshê e Aharon permaneceram resolutos e dedicados à sua missão, do início ao fim. O que mais se podia esperar de homens tão ilustres?

Talvez a intenção seja nos dar uma lição significativa. Muitos líderes de grandes causas iniciam suas atividades com ardor, sinceridade e devoção. Com o passar do tempo, porém, impressionam-se com a grandeza da própria posição e começam a mudar; sua sinceridade se perde. 

Hoje, é muito freqüente encontrar pessoas que começam uma tarefa com imensa dedicação e idealismo. Porém, agem do mesmo modo que os líderes históricos: detêm as rédeas do poder com arrogância e orgulho, deixando para trás a dedicação, humildade e sinceridade iniciais.
Isso não ocorreu com Moshê e Aharon. Permaneceram fiéis, justos e dedicados do início ao fim – o poder não lhes subiu à cabeça. Eram verdadeiros homens de D’us, dignos da posição de liderança que lhes foi conferida.

Moshê e Aharon são exemplos de líderes com os quais temos muito a aprender e nos quais os dirigentes deveriam se espelhar.

Liderança



Antes de tornar-se líder de Israel, Moshê (Moisés) era pastor. O midrash nos conta como certo dia, enquanto Moshê pastoreava os rebanhos de Yitrô no deserto do Sinai, um cabrito correu para longe do rebanho. Moshê correu atrás dele, até que o animalzinho chegou a uma fonte e começou a beber. Quando Moshê chegou ao cabrito, gritou: "Oh, não sabia que você estava sedento!" Acalentou o cabrito fugitivo nos braços e levou-o de volta ao rebanho. Disse o Todo Poderoso "Tu és piedoso ao pastorear ovelhas – tu irás pastorear meu rebanho, o povo de Israel."

Além de demonstrar a compaixão de Moshê, o incidente contém outra importante lição: Moshê percebeu que o cabrito não fugiu do rebanho por maldade – estava apenas sedento.

Quando um judeu se afasta de seu povo é apenas porque está sedento. Sua alma anseia por um significado na vida, mas as águas da Torá lhe escapam. Então ele vaga em terras estranhas, procurando mitigar sua sede.

Quando Moshê entendeu isso, pôde tornar-se líder de Israel. Apenas um pastor que não se apressa em julgar o cabrito fugitivo, que é sensível às causas de sua deserção, pode carinhosamente pegá-lo nos braços e trazê-lo de volta para casa.

KABBALAH TV